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Crítica de “Crux”, APELES (2019)

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Thadeu Vilas  (Amante) – TXII

Eduardo Praça é um músico paulistano que sempre expôs de forma crua e visceral suas emoções em seus trabalhos. Membro do finado Quarto Negro, que deixou como legado os ótimos álbuns Desconocidos (2011) e Amor Violento (2015), Eduardo lançou recentemente o segundo álbum do seu projeto Apeles: Crux.

No mais recente registro, as emoções tortas do cantor são embaladas por um instrumental que muito lembra obras de outros artistas como Arcade Fire, David Bowie e The Cure. Ao longo das 8 faixas, somos transportados para uma realidade repleta de psicodelia, ruídos atmosféricos e vocais enevoados.

A faixa de abertura do álbum é a longa Deságua. Dividia em duas partes, ela é capaz de simbolizar bem aquilo que será encontrado ao longo do álbum: uma lírica cheia de autocrítica e reflexão acerca dos próprios sentimentos acompanhada por vezes de um instrumental denso, e por outras de um mais vago. Apesar de parecer contrastante demais, tal mistura funciona e intensifica os sentimentos do ouvinte.

Logo em seguida, começa uma melodia semelhante a de Afterlife (Arcade Fire), anunciando a chegada de A Alegria dos Dias Dorme no Calor dos Teus Braços. Uma das melhores do trabalho, a faixa possui uma pegada um pouco mais dançante do que aquela que será encontrada nas demais do álbum, porém, apesar disso, os versos da canção vem carregados de um sentimentalismo intenso.

Em Pássaro Nu, Eduardo constrói uma música sombria e cheia de detalhes. O instrumental marcado por sintetizadores empoeirados, guitarra, bateria e piano funciona como protagonista, mas sem tirar a beleza letra.

Dando prosseguimento a obra, começa a poética e apaixonada Pele, uma canção que começa intensa, mas que começa a perder força (propositalmente) com o fim da letra, resultando em pouco mais de 1 minuto de apenas piano e sintetizadores calmos e íntimos, estabelecendo um paralelo com a introspecção dos últimos versos.

Após a calmaria anterior, surge Reflexo Turvo. A música foi construída de forma a dar uma sensação claustrofóbica, devido ao excesso de guitarras, acompanhado por distorções vocais e uma letra com sons parecidos. O sentimento de aprisionamento e inquietação cresce com o passar da canção, culminando com a voz do cantor sendo engolida por um mar de ruídos.

Para aliviar o sufoco causado pela música precedente, aparece a extremamente sensível e melancólica Crux. A faixa que dá nome ao trabalho é a que possui a letra mais bem desenvolvida e tocante de todo o álbum. Os versos que refletem toda a angústia do cantor juntamente com o instrumental etéreo jogam o ouvinte numa mistura intensa de emoções, marcada sobretudo pela dor e, em certa parte, pela esperança. Após tal imersão emocional, a canção termina com a gravação amadora de um cantarolado simples e solitário, mas reconfortante.

Aproximando-se do final, ouve-se a música mais contida do álbum: Rebeca. Marcada por um violão delicado e vozes esfumaçadas, o tema principal da faixa é a superação de um relacionamento acabado. Construída para parecer com um diálogo entre o autor e o ouvinte, Rebeca mostra como Eduardo não teme a vulnerabilidade e a exposição.

Por fim, temos Torre dos Preteridos. Finalizando o álbum de forma suave e mostrando o reconhecimento do autor acerca de seu crescimento pessoal, a música de encerramento desconstrói a atmosfera tensa e sombria posta pela faixa de abertura.

Crux é um álbum dominado pelas emoções de Eduardo, porém nem sempre elas conseguem ser completamente compreendidas devido ao excesso de camadas e distorções vocais empregado, que dificulta a captação das letras. Contudo, tal marca não prejudica o trabalho, visto que o instrumental consegue suprir tais desconexões. Extremamente pessoal e repleto de detalhes, tal obra ganha mais profundidade conforme mais vezes é ouvida, fazendo a experiência de ouvir mais uma vez as músicas ser sempre especial. Profundo e complexo, Crux desafia o ouvinte a não se emocionar ao longo dos seus 34 minutos de duração.

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