Por Duda Hidalgo (Moema) – TX
Com a pandemia, muitos cidadãos perderam seus empregos ou parte de sua renda, fazendo com que cerca de 9 milhões de brasileiros deixassem de comer por questões financeiras.
É importante entendermos essa crise se originou muito antes da chegada do coronavírus no Brasil. Se engana quem culpabiliza as medidas para garantir a subsistência da população tomadas durante a pandemia por essa crise. Inclusive, se mostra muito problemática essa postura porque passa a impressão de que é só cortar o auxílio emergencial que a economia volta ao normal, quando o que de fato precisamos é garantir que as pessoas consigam manter pelo menos o seu consumo essencial.
O neoliberalismo por si só gera uma enorme marginalização das classes mais baixas. O projeto econômico implementado por Bolsonaro, mesmo antes da pandemia, obteve uma série de fracassos. Bolsonaro não conseguiu fazer com que a indústria nacional retornasse ao seu nível de crescimento normal, não apresentou um aumento do salário mínimo e a própria diminuição do desemprego veio associada ao aumento da informalidade.
Recentemente vimos a disparada no preço do arroz, feijão, óleo e leite, alimentos básicos para o cotidiano do brasileiro. Alguns desses itens tiveram alta de mais de 20%. Mas como tiveram alta se tiveram um aumento da produção neste ano?
Isso se explica a partir da natureza agroexportadora do Brasil que, agora, com a retomada das atividades econômicas de outros países como a China, gera naturalmente uma alta dos preços em vista de um aumento na demanda externa pelos produtos brasileiros. Quando incluímos nesse cenário a alta do dólar, a exportação se torna claramente mais vantajosa para os agropecuaristas, fazendo com que grande parte do que é produzido aqui acabe parando em outros países esvaziando o mercado nacional.
E temos um problema muito maior, a falta de mecanismos construídos para sanar esse problema. O próprio Ministério da Agricultura só dispõe de ferramentas voltadas para situações de quedas de preços e garantia de renda dos produtores, e não para a contenção de escaladas, restando como alternativa a importação. Ademais, nossa política de estoques se encontra também desatualizada, em uma década, os estoques públicos de alimentos tiveram uma redução de 96%. Quer queira, quer não, a situação reflete a política liberal do nosso sistema econômico, que faz com que os preços do produtos tenham como pilares a oferta e da procura do mercado e a variação no valor do dólar, sem interferência do Estado.
A insegurança alimentar se tornou parte do cotidiano de alguns brasileiros, os principais alimentos na mesa das famílias mais pobres se tornaram inacessíveis. Enquanto o agronegócio lucra, o povo está ficando mais distante do ideal de vida digna. O peso no bolso dos brasileiros aumentou, mas a comida na mesa diminuiu, esse é o reflexo de um governo que não se preocupa com o povo!