Política nacional

Fixação Fálica e Anal: o rijo pênis da FioCruz

Tiago Augustini e Pedro Sberni (TX da FDRP)

Boas a todos e todas que nos leem – a educação faz-nos a obrigação do cumprimento (até para os paulistanos). Poderíamos chegar ao leitor e enfiar-lhes goela abaixo uma dúzia de palavrões e já tocar de banda. Mas não, estamos aqui cumprimentando-os, como deve ser – aviso aos paulistanos! 

Todavia, eis a diatribe: a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde – Mayra Pinheiro – conhecida por “capitã cloroquina” (sic) – fora convocada para depor na CPI da Covid no Senado esta semana (sic) e foi exposta às suas próprias falas: se você chegou de Marte ou de Taquaritinga por esses dias, talvez deva ser a única pessoa que não saiba quais falas são. Mas como pode haver essa possibilidade, vamos informar a todos e todas.

Mayra Pinheiro, após mentir aos Senadores e a todos brasileiros e brasileiras que o Ministério da Saúde nunca indicou medicamentos como cloroquina para tratar a covid-19 (apenas uma das falas absurdas e festejadas pela caterva bolsonarista como Alexandre Garcia), questionada pelo vice presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (REDE/AP), qual seria sua opinião sobre a FioCruz, a secretária respondeu de pronto, in verbis:

  • É uma instituição de excelência que tem dado grande contribuição para a vacina agora no Brasil no momento em que nós vivemos.

Randolfe ainda a questiona se ela sustentaria suas afirmações sobre a FioCruz e ela responde que sim, mas eis que o senador pega seu celular e reproduz um áudio em que, no início, ela explica como funcionaria a eleição para a presidência da instituição e liga a FioCruz a complô de partidos da esquerda e o papel que eles deveriam (lê-se bolsominions) era retirar o poderio da FioCruz de comandar a saúde no Brasil e daí vem a fatídica fala:

  • […] A FioCruz é um órgão do Ministério das Saúde e eles sempre votam contra as pautas deles (sic) de minorias. Tudo deles envolve LGBTQI, eles têm um pênis na porta da FioCruz; todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara; as salas são figurinhas do LulaLivre, MarielleVive. Então, é um órgão que tem um poder imenso, porque durante anos eles controlaram – e o senador Rodrigues corta o áudio neste ponto.

 A discussão avança sobre se a secretária ainda possui as mesmas convicções sobre a instituição e ela reafirma que sim. Bom, pouco importa o que ela pensa; a questão é que pessoas como essa secretária estão em cargos de poder numa pandemia em que o país caminha ao macabro e assustador número de 500 mil mortes de uma infecção que já possui vacina e que, nos países em que pessoas sérias e comprometidas estão no poder, a imensa maioria de suas populações estão vacinadas e as medidas restritivas estão caindo pouco a pouco. 

Uma das características desse governo – e pelo jeito para se fazer parte dele como influenciador ou membro – é a de haver uma fixação um tanto quanto doentia a pênis e ânus (pinto e cu – diria Olavo de Carvalho e terminaria com um Porra!). 

Esse é um dos temas muito caros à teoria psicanalítica freudiana – as fixações, tanto fálica quanto anal – porque são características do desenvolvimento da personalidade e do desenvolvimento psicossexual das pessoas. O desenvolvimento desse pensamento é tão interessante que reflete em muito como as pessoas se relacionam com seus parceiros e parceiras e também, numa linha dialética, até como os celibatários veem o tema. 

Vladimir Safatle, em coluna recente no site El País, intitulada “Governar através do sexo”, traz grande contribuição ao que estamos propondo aqui. Publicou em 13 de maio, antes mesmo da Capitã dar o ar da graça no sítio legislativo. 

Nela, faz importante construção histórica, apontando que, no fim do século XIX, o discurso cientificista adentrou à sexualidade, propondo classificações clínicas, categorizações do comportamento “normal”, entre outros desenvolvimentos que permitiam a normatização da sexualidade em vistas a uma possível degeneração social que ameaçava o tempo. 

Com maestria, aponta que “na verdade, essa é uma questão absolutamente estrutural, pois diz respeito não apenas como a sociedade irá se reproduzir, mas também como as hierarquias serão desejadas, como a insubmissão em relação à norma será afastada.”

De fato, a época a que se remete foi marcada por grande ebulição social, com corpos nas ruas e crescente sentimento revolucionário e, por consequência, reacionário. Assim, continua o autor, “Nada melhor do que instaurar um policial no interior de cada sujeito, nem que ele esteja vestido com as roupas do médico. Fazer as pessoas temerem a insubmissão nas ruas através do temor que se instaura contra a insubmissão do seu próprio desejo.”

Em Terra Brasilis, tempos contemporâneos nos trazem à reflexão. Todos os dias o Presidente utiliza-se da questão sexual para se comunicar, seja através da intenção de ofender com “você tem uma cara terrível de homossexual”, pela tentativa de deslegitimar o questionamento com “usava esse dinheiro para comer gente”, “pergunta para sua mãe”, e infinitas outras passagens às quais me falta energia e disposição para aqui transcrevê-las. 

Acontece, porém, que isso não acontece por acaso. O Presidente se cercou de maníacos. A começar pelo Reverendo Ministro da Educação que disse que atualmente as crianças brasileiras “não sabem ler, mas sabem usar camisinha”. A ministra TÉCNICA, Damares Alves, por sua vez se engaja constantemente em campanhas políticas bizarras, propondo abstinência sexual, por exemplo – por sinal muito bem analisada pelo psicanalista Christian Dunker, a quem interesse. 

No mesmo sentido, João Moreira Salles, em julho de 2020, apresentou coluna chamada “A morte e a morte – Jair Bolsonaro entre o gozo e o tédio”, na revista Piauí. Brilhantemente, ele aponta: “Se parece quase inevitável que a violência venha, não é apenas por ela se constituir como instrumento de tomada de poder, mas por ser desejável e prazerosa. “Para mim, para o senhor e para os nossos pares, a paz é hoje uma desgraça”, disse um líder fascista na Itália de Mussolini. Para bolsonaristas, é pior do que isso: a paz é assexuada.” E continua, ainda mais certeiro: 

“Bolsonaro sempre sorri quando transforma as mãos em arma. Aquelas pistolas imaginárias, símbolo de sua campanha, estão ali para mostrar o que lhe dá prazer. A violência é o componente essencial. O que provoca regozijo é o corpo baleado no chão, o traficante executado, o homossexual espancado, a moça trans agredida, o esquerdista desacordado, o indígena ferido. Já as vítimas da pandemia morrem sem espetáculo, numa agonia que não é pública. Sendo invisíveis, suscitam no presidente apenas desinteresse, enfado, “o puro tédio da morte”, como escreveu Nelson Rodrigues sobre a reação de alguns ao horror da gripe espanhola.”

Nesse mar de excrescência, ousamos até mesmo dizer que, em vez de Necropolítica, vivemos em uma merdocracia em que o nosso líder, o imbrochável, a criança narcísica mais importante das galáxias, está adorando brincar com o seu próprio cocô, impressionando os seus admiradores fiéis. 

Bolsonaro congrega a figura da criança – franco e livre para fazer o que bem entender, infinito em seu contexto ensimesmado -, com a figura de um pai moralista, um pouco agressivo, vez ou outra espanca um membro da família, vive de traições, mas, ao final de tudo, é pai e esse é “só o jeito dele”. Para nossa total ausência de surpresa, ambas as figuras conversam muito entre si e, porque não, com aqueles que se emocionam com a cruzada do Fecófilo contra o mundo real. 

Luta-se, sobretudo, contra a potencialidade de uma nova circulação do desejo.

Apesar de tudo, para olharmos a um dia em que possamos fazer cocô uma vez por dia (abandonando o dia sim, dia não), a realidade é implacável. A alucinação acaba. A fome vai bater forte, a criança, com ódio por milhões de razões, há de procurar seu meio de sobrevivência, alimentação e crescer. Até lá, sobrevivamos à birra, quase infindável.

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