A Láurea Acadêmica é a premiação solene de reconhecimento objetivo de um padrão quantitativo de desempenho acadêmico, permeado de subjetividade meritocrática em que determinados alunos, imediatamente antes da aula magna de recepção dos calouros, recebem premiações honoríficas publicamente pelo corpo acadêmico.
As problemáticas levantadas em relação à saúde mental do corpo discente são sustentadas por inúmeras variáveis que orbitam desde questões psicológicas até fundamentações objetivas de desnecessidade da promoção de um ideal de desempenho a ser almejado gratuitamente com a ilusão de recompensação baseada pura e simplesmente pelo mérito individual.
Nessa toada, quando afastados os aspectos morais de autopromoção e enaltecimento subjetivo da atuação catedrática, é necessário considerar que, para tratar o assunto de forma humanística, deve-se elencar que o único aspecto positivo trazido pela premiação aqui discutida fundamenta-se apenas no fato de que o aluno premiado poderá eventualmente ser favorecido com pontuações extras em concursos ou utilizando o certificado da premiação como suposto critério de desempate em entrevistas de emprego.
Inobstante os eventuais benefícios que a premiação agregaria ao aluno recém formado, cabe destacar que eles apenas existem em razão de, num primeiro momento, a própria universidade ter criado esse tipo de premiação e ter, consequentemente, dado margem para que instituições públicas e privadas a utilizassem como critério de favorecimento em concursos ou entrevistas de emprego.
Entretanto, ainda que o voto da maioria seja em prol do favorecimento individual por meio de premiações subjetivas que enaltecem um ideal de mérito completamente abstrato e desprovido de necessidade prática, é necessário considerar o afastamento das solenidades. Isto é, o aluno que se empenhar para receber tal premiação não precisa necessariamente que exista a solenidade estética de se receber o prêmio em cerimônia, ainda mais em frente aos calouros recém chegados que, por sua vez, acabaram de passar por um processo seletivo cruel e exaustivo como a Fuvest e o Enem. As cerimônias são dispensáveis, nesse caso. Em prol da saúde mental dos calouros (e demais alunos da graduação que possivelmente se empenharam igualmente por anos, apesar de não terem conseguido média ponderada suficiente para o recebimento da premiação), as premiações de caráter público não precisam ser realizadas em cerimônias solenes. As cerimônias apenas fortalecem um ideal de competitividade individualista que já é criado pelos vestibulares e que constitui grave onerosidade para as relações pessoais do cotidiano, seja no âmbito social, seja no profissional.
Portanto, ainda que tal premiação continue a vigorar como prática tradicional catedrática em detrimento dos malefícios psicológicos que trazem para todo e qualquer aluno da Faculdade de Direito, é mister considerar a abolição das cerimônias e demais solenidades públicas, tendo em vista que, se a principal justificativa reside no fato de essa premiação configurar em eventual benefício profissional, não há necessidade nem justificativa plausível para que seja realizada em cerimônias implicitamente vaidosas. O aluno pode muito bem continuar recebendo a certificação de forma mais reservada e inexplícita, que não acarretaria em nenhuma perda concreta na validade da premiação.
Ainda assim, a discrição não faria muito pelos problemas aqui levantados, uma vez que informações desse tipo são corriqueiramente divulgadas em redes sociais e outros meios de comunicação. Dessa forma, questiona-se, novamente, a real e objetiva necessidade prática da existência de um prêmio como esse, frente a tantas outras variáveis que permeiam a vida universitária, como parte da vida em si.
Esse tipo de premiação honorífica, muito mais do que “recompensar” os alunos “distintos”, cria parâmetros e hierarquias entre as relações estudantis, laborais e até mesmo sociais, que em nada contribuem para a harmonia e saúde coletiva. Se o prêmio nada mais é que uma consequência do currículo universitário do estudante e de suas notas em um boletim, evidente que esses documentos, por conta própria, seriam capazes de demonstrar a suposta distinção do aluno àqueles que estiverem interessados.
Toda e qualquer premiação, ainda que siga metodologias objetivas de aferimento de desempenho, termina configurando como instituto de enaltecimento subjetivo pela diferenciação de habilidades, seguido da consequente depreciação das demais habilidades e esforços que, de forma subentendida, ficam marcados pela desgraça de uma valoração elitizada e segregadora.
Resumidamente, a láurea acadêmica:
• Fomenta maior competição e não colaboração entre os alunos.
• Favorece um ensino bancário, com pouco protagonismo estudantil e métodos participativos de aprendizagem, como incentiva o PPP, além de deixar os alunos reféns de avaliações absurdas, pelo medo de se organizarem minimamente e sofrerem depressão.
• Por fim, ressalte-se que a lógica é totalmente meritocrática, tornando o ambiente da faculdade hostil e competitivo, sem considerar a realidade social e material dos estudantes, contribuindo para a perpetuação das desigualdades na faculdade.