Por Yan Bogado Funck
A última reunião da Congregação foi marcada por algumas discussões importantes. Nós, os discentes, levantamos questões de grande importância sobre o comprometimento dos docentes com a graduação. Questionamos o oferecimento de disciplinas optativas e o cumprimento do mínimo horas-aula.
Além disso, outro item na pauta foi muito relevante: a discussão sobre os cursos de pós lato sensu e sobre sua finalidade para a faculdade.
Nessa reunião foram apresentados alguns dados, compilados pela Comissão de Cultura e Extensão, sobre os cursos de especialização. Os dados apontam que, majoritariamente, os cursos atingem advogadas e advogados formados recentemente em instituições privadas da região de Ribeirão Preto e Franca. Logo em seguida, foi enaltecido o benefício que as especializações trazem e que justificariam a existência deles.
Porém, um docente se manifestou sobre isso. Não pretendo expor a pessoa, mas apenas fazê-la de exemplo para uma ideologia existente na faculdade e que repercute pelos seus corredores.
Tal docente afirmou que os cursos de pós-graduação lato sensu não podem ter a qualidade que têm, se não fossem pagos. Segundo ele, os cursos têm como finalidade retribuir a sociedade que não pode ingressar na Universidade Pública, rompendo os muros da Universidade. Mas que sociedade é essa e que muros são esses?
Já que os cursos atingem principalmente estudantes de Ribeirão Preto, vamos analisar os dados dessa cidade.
Essa cidade é justamente marcada pelas contradições. Apesar de ser um grande polo agroindustrial e de potencialidades na Construção Civil, comércio e serviços, apresenta dados sociais preocupantes. Seu índice Gini de 0,54, ou seja, a 35ª cidade mais desigual do Estado de São Paulo. 10% da população residente em domicílios particulares permanentes é considerada vulnerável a pobreza (renda abaixo de meio salário mínimo). 52% das pessoas acima de 18 anos tem renda abaixo de 2 salários mínimos. São dados relevantes, principalmente quando vemos de perto, a situação dessas milhares de pessoas na cidade.
Enquanto isso, os cursos de especialização, giram em torno do valor mensal de R$ 1.000,00 e proporcionam apenas 10% de bolsas. Ainda mais absurdo ao perceber que para receber essa bolsa, o candidato, necessariamente, deve estar inscrito em algum programa de assistência social do governo. Isso limita as bolsas, uma vez que o número de pessoas que consegue atingir esse critério é muito baixa e que, outras dezenas, talvez centenas de pessoas que se interessariam no curso e não tem condições de pagá-lo, não se adéquam a esse critério.
Portanto, a quem esses cursos atingem? Como eles podem superar os muros da Universidade, se a maioria da população de Ribeirão Preto não pode ser alcançada por eles?
Esses cursos, em verdade, servem para acrescer a renda dos seus organizadores em quase R$ 10.000,00 por curso. Não sou contra que nossos docentes recebam um bom salário, porém sou contra que isso se dê a custo de cursos que explorem o nome da Universidade Pública, sem que sejam, de fato, públicos. E, já que eles são uma realidade presente, temos que lutar para que efetivamente tragam benefícios a faculdade e/ou, realmente atinjam pessoas que não tenham condições de pagá-los.
*Todos os dados relativos à Ribeirão Preto são do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, realizado pelo PNUD, FJP e IPEA. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/